Parcelando a Dor
Esse ano eu perdi um grande amigo. Não por morte ou distância, mas por opção. Após várias tentativas de revê-lo, recebi uma mensagem dele dizendo "não me procure mais". Fiquei confusa, depois triste, depois com raiva. Hoje em dia, fico mesmo é com saudade. É tanto passado junto que é impossível esquecer, e é tanto futuro pela frente que meu amigo se recusa a compartilhar comigo.
Desde então tento não pensar nisso, mas esse fim de semana li uma passagem num livro que me trouxe tudo de volta. O protagonista escreve um carta ao seu melhor amigo, de quem ele propositadamente se distanciou:
"Não suporto a idéia de me aproximar de você, ou de me aproximar ainda mais de você, apenas para ver você morrer e me deixar sozinho. Você é meu melhor amigo. O melhor amigo que eu jamais tive. Eu tenho que proteger isso.O foda é que eu não sei quantas parcelas são nessa brincadeira. E pra mim, tá doendo muito todo dia.
Eu não te ligo ou te visito mais porque eu estou te matando agora, enquanto é mais fácil. Porque eu ainda posso falar com você. Faz sentido pra mim me distanciar agora, enquanto você ainda está saudável, em vez de acontecer uma noite dessas do nada.
Estou tentanto parcelar a dor da perda. Em vez de sentir de uma vez só."