Que saudade eu sinto da Bahia... e de Praga
Dias de sol em Atlanta, principalmente no inverno, me dá saudade de casa. Vejo o céu azulzinho do meu escritório e fantasio que além do prédio da frente está a balaustrada da praia da Pituba. Fecho os olhos e imagino o sol se pondo deixando o mar brilhando, as barracas vendendo coco gelado e quase posso sentir o cheiro de acarajé fresco... aí eu pisco e meu dou conta que está 10 graus lá fora e que além do prédio tem mais prédio. Pra não dar baixo astral eu ligo o som alto com alguma música de carnaval!
Já me acostumei com esse ritual e não pensei que iria sentir saudade de lugar algum como sinto de Salvador. Mas ultimamente me pego fantasiando com Praga.
Yudi e eu visitamos Praga pela primeira vez em Novembro de 2006. Eu queria tirar uma semana de férias e ver Gabi em Viena. Mas uma semana em Viena seria muito, então que outro lugar visitar?
Depois de muito olhar na Internet por possíveis lugares, e considerando o outono brabo da Europa, optamos por Praga - embora não conhecesse nada do lugar, sabia que era uma das cidades preferidas de Lívia Antônia.
Comprei uns guias e fiquei impressionada com as fotos bonitas, mas nada me preparou para a cidade em si. Muito lindo! A ponte de São Marcos, o castelo, as igrejas barrocas, as praças, os prédios cubistas, as façadas.... mas o melhor mesmo foi a comida e bebida. Dê só uma sacada na descrição do guia Lonely Planet (desculpa a tradução mal feita): "O prato típico, que é servido em praticamente todos os restaurantes Tchecos, é 'knedlo, zelo, vepro' (pastel cozido no vapor, chucrute e porco assado). Cominho, sal e bacon são os tempeiros mais usados - os chefes Tchecos são bastante generosos com o sal. E tudo é lavado com álcool, especialmente cerveja. Definitivamente não é comida diet." Como posso resistir?
Andamos a cidade toda, indo a praticamente todos os pontos turísticos - e outros não tanto - que o Lonely Planet indicou. O lance era conhecer a cidade de dia e pegar o cachorro-quente da "carrocinha" da praça Wenceslav na volta pro hotel. Aprendi que a cerveja Pilsen foi inventada na República Tcheca, e que os caras levam cerveja a sério. Segundo o guia, Tcheco que se preza não toma cerveja de lata - isso é coisa pra "gringo". Foram quatro dias de joelho de porco com cerveja local (Urquell e Staropramen, que delícia)!
Mas a revelação final - e a razão de minha eterna saudade - foi o U Zlateho Tygra (Tigre de Ouro), o bar que visitamos no último dia. Foi uma das experiências mais interessantes dos últimos tempos.
A gente ia pegar o ônibus pra Viena no fim da tarde então não dava pra fazer muita coisa. O check-out já tinha sido feito, os lugares mais famosos já tinham sido vistos... eram quase 3 da tarde e estávamos de bobeira só esperando dar a hora de pegar o ônibus.
Aí resolvemos dar uma olhada nesse bar - o guia dizia que era um dos únicos bares de Praga que tinha mantindo a "alma" original, ou seja, não tinha mudado pra atrair turistas. Nossa, como foi verdade.
Localizamos o endereço, mas a porta estava fechada. Não sei ler Tcheco, então assumi que o bar tinha falido ou coisa parecida. Quando ia indo embora, um cara me olhou e apontou pro relógio. Foi aí que entendi que o bar só abria às 3 - e que tinha uma galera esperando. Assim que deu 3, a porta abriu e entramos todos.
Olha só o esquema:
- Não tem menu. Tem um quadro-negro na parede da entrada que diz "Pivo 32Krs". No bom português: só serve cerveja, só serve de meio-litro, e é "dois real".
- A área do bar consiste em 1 estante com canecas de meio litro, 1 pia, 1 torneira onde sai cerveja gelada, 1 cara que pega a caneca da estante, passa uma água e a enche de cerveja e 1 balcão de meio metro onde ele coloca a caneca cheia. Nunca vi coisa mais eficiente.
- Não tem mesa individual. Tem bancos tipo de picnic, que sentam até 6 pessoas, com uma pilha de porta-copos e umas folhas de papel. Você senta onde tiver vazio.
- Assim que você senta, vem o garçom (só tem 1 cara) e coloca uma caneca cheia em cima de um dos porta-copos, na sua frente. Ele pega o pedaço de papel e dá um risco. Nenhuma palavra é trocada.
- Você levanta a caneca pra tomar o último gole. No momento que você coloca a caneca no porta-copo, vem o garçom e troca a vazia por uma cheia e dá outro risco no seu papel. De novo, nenhuma palavra é trocada.
- Na hora que você cansou de comer água, é só tapar a caneca com o porta-copo. Isso indica ao garçom que você quer "passar a régua". Você conta os riscos do seu papel, coloca o dinheiro na mesa e o garçom vem e recolhe (e te dá troco, quando for necessário). Vou repetir, nenhuma palavra trocada com o garçom.
Ai, que saudade eu tenho da Bahia... e de Praga.
1 comment:
Agora vc me deu uma desculpa pra ir visitar Lyvia em Viena, da uma esticadinha ateh Pragaa !hahaahhah
Post a Comment