Parcelando a Dor

Esse ano eu perdi um grande amigo. Não por morte ou distância, mas por opção. Após várias tentativas de revê-lo, recebi uma mensagem dele dizendo "não me procure mais". Fiquei confusa, depois triste, depois com raiva. Hoje em dia, fico mesmo é com saudade. É tanto passado junto que é impossível esquecer, e é tanto futuro pela frente que meu amigo se recusa a compartilhar comigo.

Desde então tento não pensar nisso, mas esse fim de semana li uma passagem num livro que me trouxe tudo de volta. O protagonista escreve um carta ao seu melhor amigo, de quem ele propositadamente se distanciou:

"Não suporto a idéia de me aproximar de você, ou de me aproximar ainda mais de você, apenas para ver você morrer e me deixar sozinho. Você é meu melhor amigo. O melhor amigo que eu jamais tive. Eu tenho que proteger isso.

Eu não te ligo ou te visito mais porque eu estou te matando agora, enquanto é mais fácil. Porque eu ainda posso falar com você. Faz sentido pra mim me distanciar agora, enquanto você ainda está saudável, em vez de acontecer uma noite dessas do nada.

Estou tentanto parcelar a dor da perda. Em vez de sentir de uma vez só."
O foda é que eu não sei quantas parcelas são nessa brincadeira. E pra mim, tá doendo muito todo dia.

Momento Abutre

Segunda da semana passada estava tentando negociar com o RH de San Francisco pra descolar uma sala. Tenho uma sala massa no escritório de Atlanta - de esquina, num corredor sem movimento, com um janelão ensolarado que me dá oportunidade de ter plantas. Mas o rapaz de San Francisco só queria saber de me botar em um cubículo minúsculo e com carpete mofado: "todas as salas já tem dono".

Aí na quarta-feira veio notícia de re-organização na empresa. Redundâncias. Demissões. A primeira coisa que veio na cabeça foi "será que vaga uma sala pra mim?". Tem dias que acho que tô pagando as parcelas de um apartamento no inferno.

Avião II

Estava uma vez no carro com Su, num engarrafamento. Ela estava fazendo faculdade em Sampa, e passava as férias em Salvador. Estávamos caladas, de saco cheio com os carros que não saíam do lugar. Até que Su olha pra mim e diz: eu não entendo certas coisas. Até absorvente higiênico avança: é fino, sempre seco, super absorvente, com abas. Mas não tem ninguém melhorando a tecnologia da janela do avião. É sempre aquela coisa pequena, embaçada, arranhada. Nunca dá pra ver nada direito.

Você está 100% certa, minha amiga. Eu também não entendo.

Avião I

Sexta-feira passada estava num avião 777 a caminho de San Francisco. Começou o filme - Casino Royale - e é óbvio que fui assitir de novo. Logo percebi que James Bond tinha uma linha rosa acima e uma linha verde abaixo de sua silhueta. Aí penso: se eles não conseguem ajustar corretamente as cores do filme, que garantia tenho eu de que eles ajustaram corretamente as turbinas? Viajar de avião é um ato de fé.

Minha Pátria é Minha Língua

Caetano já disse que adora nomes em ã de coisa como rã e ímã... Me pego com saudades de nomes com "em": emperiquitada, embecada, embasbacada. Ou desbunde. Fantasio dizer que me emperiquitei pra festa, que foi um total desbunde. Sei que estou em casa quando digo ao camelô "quanto é a pinha, freguês? e o jambo? e o litro de umbu? a cajarana tá madura?".

Às vezes penso em ter filhos só pra poder propagar esse vocabulário que só a Bahia tem.

Novos Gladiadores

Fui ver 300 no cinema esta semana. Ainda estou embasbacada. São filmes como este que me dão vontade de voltar no cinema mais e mais. A estória é previsível, mas a interpretação do diretor é única. Os efeitos especiais, a música, as lutas...

Mas bom mesmo é quando os Persas pedem aos Espartanos que se rendam: "milhares de nações do Império Persa descerão sobre vocês. Nossas flechas irão tapar o sol". O Espartano, sem nem piscar, responde: "Assim sendo, lutaremos na sombra." Detalhe é que o Espartano se encontra de sunga preta, chinelinho de couro e capa de Super-Homem. Ô raça.

Fiquei mais emocionada do que quando vejo Gladiador. Aí me vem o pensamento: quem ganharia a briga entre Maximus e Leonidas? É como perguntar se as facas Ginsu cortam mesmo as meias Vivarina... ninguém jamais saberá.

Lar, Novo Lar

Finalmente tenho um novo lar, numa cidade que é pra lá de boa! Parece que todos os meus desejos foram atendidos: é nascente, com vista pro mar (OK, tem que esticar o pescoço um pouquinho pra ver, mas é azulzinho que só), pertinho do trabalho, do cinema, de restaurantes, do supermercado, da estação de metrô...

Dia primeiro de abril começa uma nova etapa! Até lá, vou marcar váaaaaarios bota-foras.

$390 milhões

O prêmio da loteria acumulou em 390 milhões de dólares. Aqui a loteria sorteia duas vezes na semana, e todo dia quando vou pro trabalho vejo o outdoor gigante com o valor corrente. Todo dia passava, via o prêmio crescendo e pensava: essa semana eu jogo!

Ontem teve sorteio. Hoje o outdoor mostrou 12 milhões, o que significa que alguém ganhou. Pensei: nossa, bem que podia ter jogado. Imagina quanta coisa que eu ia poder fazer com 390 milhões... viagens, festas, não me preocupar com aluguel...

Até que meu cunhado perguntou: se você ganhasse, você voltava pro Brasil? E comecei a pensar em como eu ia dividir o prêmio com a família e os amigos, e conseguir não ter nenhuma pessoa amada sequestrada no processo. Em segundos as minhas viagens e festas foram substituídas por grades e carro blindado.

É. Foi melhor não ter jogado mesmo.

Valor: meu ou dos outros?

Ontem fiquei pensando depois de conversar com minha irmã Eda. Valor é uma coisa que a gente tem, ou que os outros dão a gente?

Um exemplo: trabalho. A menos que você tenha ganhado a loteria, você passa 50% ou mais do seu tempo acordado em algum escritório, consultório, ou coisa parecida. Se você tem sorte, o seu trabalho te dá mais do que o contra-cheque no final do mês. De repente é um colega que te ensina coisas novas, ou o melhor amigo que é muito engraçado e faz o tempo passar rápido, ou o chefe que te inspira a fazer melhor. Se você não tem tanta sorte, provavelmente chega em casa de saco cheio de ter passado tanto tempo num lugar tão chato.

É aí que a gente começa a se perguntar se não há nada melhor para fazer. Dar o zignal no trampo e viajar pelo mundo; fazer um curso para aprender coisas novas; procurar emprego novo naquele lugar que você sempre sonhou. São semanas - às vezes meses - que a gente leva pra tomar a decisão de pedir as contas. Aí seu chefe diz: "vai sair? ok." e de repente todos os seus sonhos meio que desaparecem momentariamente. Como assim, ok? Eu sou substituível? Todo o tempo e esforço que dediquei não serviram de nada? Amanhã chega o novato e ninguém nem lembra tudo o que eu fiz aqui... eu sou um zero à esquerda.

É piração, mas acontece nas melhores famílias. O valor está com a gente, não com o chefe. Foi a gente que deu a raça no trampo enquanto foi bom, e que teve a coragem de continuar a batalhar por um caminho melhor quando deixou de ser bom. O valor está aí.

Gladiador

Quando me mudei pros States em 2000 fiquei em casa por uns meses. Como não tinha visto de trabalho, terminava passando muito tempo em frente ao computador e a TV. Então rapidamente tomei raiva do filme Gladiador. O comercial do filme passava de 15 em 15 minutos "O general que virou escravo... o escravo que virou gladiador... o gladiador que desafiou o imperador..." e encheu tanto meu saco que não fui ver no cinema.

Quanto arrependimento... 7 anos se passaram, e hoje em dia Gladiador é um dos meu filmes prediletos. Acredito ter visto mais de 20 vezes. Toda vez que passa na TV eu assisto, e toda vez fico arrepiada e emocionada exatamente no mesmo momento. Toda vez ligo pra Lys (como hoje) pra repetir as falas do filme (Gabi, Gladiador é meu novo Top Gun).

Vão aqui alguns de meus preferidos momentos:

  • "What we do in life echoes in eternity". Final feliz para um discurso que inclui "vocês já estão todos mortos".
  • "At my sign, unleash Hell". Nada como começar a batalha soltando o seu cachorro Hell em cima dos inimigos.
  • "Are you not entertained?". O cara mata bem uns 7 em menos de 2 minutos e fica todo irritadozinho-e-mau só porque a platéia demora para aplaudir.
  • Panis et Circenses. Amo quando os soldados jogam pão para a galera do Coliseu. Me lembra o programa do Chacrinha.
  • "My name is Maximus Decimus Meridius... father to a murdered son, husband to a murdered wife, and I will have my vengeance in this life or the next". Oh yeah. Tenha medo. Tenha muito medo.
  • "Why is he not dead? That vexes me. I'm terribly vexed". Americanos fazendo papel de Romanos que falam inglês com sotaque Britânico e eu só consigo pensar em minha mãe dizendo que "ficou vexada".

Morangos do Nordeste?






Certas coisas me lembram certas pessoas. Morangos me lembram minha irmã Yse, que se comporta como criança pequena quando vê morangos grandões.

A temporada de morango começou, e a caixinha que trouxe do supermercado tinha esse aí. Vermelhão, rechonchudo, quase do tamanho de minha mão. Delicioso.

Comi em sua homenagem, minha irmã. A saudade é grande.